QUEBRANDO PARADIGMAS
Fazenda de Rio Brilhante, com tradição centenária na pecuária de cria, recria e engorda, muda o foco, faz parcerias e investe forte na atividade canavieira

Um exemplo de sucesso da diversificação na pecuária

Maurício Hugo


O jovem pecuarista Rafael Possik Jr ao lado do canavial que tem cultivado, sem abandonar a pecuária

Mesmo com a dura crise na pecuária e os resultados negativos no mercado (pela prática de "colocar todos os ovos na mesma cesta e assim ficar sem opções no mercado do agronegócio"), os pecuaristas mais tradicionais continuam resistindo à idéia de diversificar a produção em suas propriedades rurais, insistindo no ponto de vista de que vão sobreviver produzindo apenas gado.

O Correio Rural, empenhado na discussão de novos caminhos para a economia sul-mato-grossense, em especial do agronegócio regional, trás para o conhecimento dos tradicionais pecuaristas, um exemplo de sucesso, de propriedade muito tradicional, que sobreviveu durante dezenas de anos da pecuária tradicional, de cria, recria e engorda, e que decidiu mudar, buscar novos caminhos. É um bom exemplo para análise num momento difícil da pecuária e de toda a economia regional.

Diversificando

A experiência de diversificação da Fazenda Ramalhete, localizada em Rio Brilhante, 150 km de Campo Grande, além de ser motivo para análise e debate em Mato Grosso do Sul, servirá de exemplo de empreendedorismo em São Paulo. Rafael Abrão Possik Jr, 35 anos, jovem pecuarista de Mato Grosso do Sul, foi convidado pela Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) para expor o processo de modernização da centenária Fazenda Ramalhete.

A tradicional propriedade rural, que já pertenceu ao pecuarista Laucídio Coelho, precisou romper um paradigma: durante quase 100 anos trabalhou na cria, recria e engorda de gado nelore e, com a crise imposta pela febre aftosa no final de 2005 e pela nova realidade no mercado do boi gordo no Brasil. A quarta geração da família, representada por Possik, precisou encontrar solução que permitisse manter a fazenda produtiva e lucrativa.

Segundo Possik, com a soja e o milho em baixa também, uma solução seria a cana-de-açúcar. Mas, para viabilizar essa opção, Possik teve que costurar uma união estratégica com as fazendas Celeiro, Primavera e Vacaria para viabilizar uma negociação mais forte com as usinas. Estabelecida a "aliança" entre os fazendeiros, o grupo abriu negociações com a Usina Passa Tempo, que, no entanto, não prosperaram.

Possik conta que a solução para os fazendeiros aumentarem a lucratividade de suas propriedades passou a ser a construção de uma nova usina na região de Rio Brilhante. Objetivo posto, a "aliança" procurou a diretoria da Coinbra (atual Grupo Louis Dreyfus), em São Paulo, na semana anterior ao carnaval do ano passado, e houve, de acordo com o pecuarista, uma sintonia rápida e muito produtiva.

Fotos de satélite foram enviadas via e-mail para a Coinbra, técnicos foram a Rio Brilhante para conhecer a região, o Governo do Estado de MS foi consultado (assim como a prefeitura local), o processo de EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental) foi iniciado, veio a audiência pública em setembro/2006 e, por fim, em outubro de 2006 saiu o alvará de funcionamento.

"Certamente, o ano de 2006 entrará para a história de Rio Brilhante", resume Possik. Com mão-de-obra local, canteiros de muda foram preparados, as propriedades foram limpas e organizadas para o plantio. O serviço totalmente terceirizado injetou dinheiro novo no comércio local em plena entressafra da soja.

Outro exemplo da contribuição indireta da iniciativa dos fazendeiros locais é o Hotel Vencedor, que passou 2006 com 100% de ocupação, além de fornecer diariamente nada menos do que 3 mil marmitas para todo esse pessoal.

A Borracharia do Ivan, a mais antiga da cidade, já tem planos de expansão. O Torno Shimada ampliou suas atividades. A Macopel, revenda de materiais para construção, está orçando e deve fornecer insumos para a construção da indústria.

O que era um sonho está completando o primeiro ano. A matriz produtiva de Rio Brilhante, basicamente soja, milho, arroz e boi até então, agora foi acrescida de cana-de-açúcar e, quem sabe, em breve, geração de energia com o bagaço da cana. Mas, como ressalta Possik, o principal é que tudo está sendo feito dentro de um critério de sustentabilidade do negócio e do meio ambiente.

Até a prefeitura já estima dobrar o orçamento municipal e gerar mais de 3 mil empregos neste ano.

A compra do Grupo Tavares de Melo (que inclui a Usina Passa Tempo) pela Louis Dreyfus Commodities Bioenergia insere Mato Grosso do Sul com destaque dentre os Estados produtores de álcool e açúcar.

"Este exemplo regional mostra que enquanto alguns choram, alguém precisa vender lenços. É isso que nós das fazendas Ramalhete, Celeiro, Primavera e Vacaria vamos mostrar para uma platéia de 500 universitários da Faap, em São Paulo, como um caso de empreendedorismo de sucesso", diz, orgulhoso, o jovem Possik.


Fonte: http://www.correiodoestado.com.br/exibir.asp?chave=exclusivo,147720,5,15,26-02-2007

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